Mulheres na Arquitetura: Trajetórias e Desafios
8 de março de 2021 |
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Mesa redonda promovida pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU/ES) fomenta debate sobre o preconceito e a discriminação sofrida por arquitetas no mundo do trabalho.
Os dilemas e as barreiras enfrentados pelas mulheres no mercado de trabalho fazem parte de uma discussão ainda atual e necessária. Não é diferente para as arquitetas. Conciliar os papéis de profissional e mãe consiste em um dos maiores desafios da vida dessas mulheres. Enfrentar o machismo de alguns setores da arquitetura e construir o próprio espaço em um contexto de desigualdade de gênero é outro problema a ser enfrentado.
Esses e outros assuntos que permeiam a vida das mulheres arquitetas serão tema de um debate em homenagem ao Dia da Mulher promovido pelo Conselho de Arquitetura e Urbanismo do Espírito Santo (CAU/ES). O evento acontece no dia 8 de março, segunda-feira, e será transmitido pelo canal do CAU/ES no Youtube.
As duas convidadas para a mesa-redonda são as arquitetas Madalena Mello e Roberta Toledo. A mediadora do debate é a conselheira do CAU/ES Regina Morandi. Regina, que tem 30 anos de história na arquitetura, destaca a importância de as mulheres arquitetas ocuparem espaços que ainda são predominantemente masculinos.
“Nós sempre ficamos muito restritas à área de projetos e interiores. E agora estamos crescendo também nas áreas de consultoria, avaliação, perícia e construção civil, o que para as mulheres tem sido um grande avanço. Mas a construção civil ainda é uma área muito dominada por homens. E as mulheres precisam mudar isso. Nesse momento de pandemia, a demanda para a construção civil aumentou muito. Temos que buscar essa fatia de mercado”, defende.
Madalena Mello é arquiteta e urbanista, natural do Rio de Janeiro, onde trabalhou com decoração de interiores em residências e na área corporativa. Mudou-se para o Espírito Santo em 1992 e foi a primeira arquiteta especialista em projetos na área de saúde no Estado.
Em seus 47 anos de experiência, Madalena viu uma transição acontecer no mundo da arquitetura. O meio deixou de ser predominantemente masculino e passou a ser mais ocupado por mulheres. Para se ter uma ideia, hoje há no Estado 2.630 arquitetas com o registro ativo. O número de homens é bem menor: 977. Madalena conta que quando entrou no mercado, precisou ser forte para enfrentar a discriminação.
“Era pouca arquiteta na obra. Era um desafio convencer não os engenheiros, mas o próprio mestre de obra, o peão de obra, de que o que eu estava falando era o que tinha que ser feito. Uma vez, na véspera da inauguração de uma loja, vi que o funcionário tinha instalado as luminárias de maneira errada. Eu fui falar e ele me desacatou, falando alto, que lugar de mulher era no tanque, na cozinha”, relata a arquiteta.
Madalena enfrentou o preconceito e conseguiu se colocar no mercado. Há 26 anos ela tem seu próprio escritório de arquitetura.
Roberta Toledo é arquiteta e urbanista graduada pela Universidade Federal de Juiz de Fora (2001). Chegou ao Espírito Santo em 2003. Ela atua na construção civil e conta que a discriminação não ficou no passado.
“Na minha área de atuação é ainda mais difícil. Coordenar uma obra e gerenciar equipes que em sua maioria são homens é uma tarefa árdua. Hoje consigo conduzir as equipes, mas no início foi muito difícil. Na maioria das vezes lidamos com uma mão de obra desqualificada, cujo conhecimento prático é tido como suficiente e eficaz, mas na verdade precisa de treinamento e atualização, e é difícil convencê-los disso”, conta.
Para Roberta, muita coisa ainda precisa mudar, e as mulheres não devem se sentir intimidadas pelo preconceito. Ela acredita que as mulheres têm muito o que somar à arquitetura e urbanismo. “Ser mulher e profissional particularmente me gera muito prazer. Ser arquiteta e ver os sonhos de clientes serem materializados é mágico. Essa sensibilidade nós temos de sobra, é o que nos torna tão especiais”.
Por Patrícia Maciel, assessoria de imprensa do CAU/ES